sábado, 24 de abril de 2010
Coisas gostosas do Brasil
Colaboração de Rosana de Pinho
O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: 'ouvi-la faz mal à saúde'. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: 'só isso?'. Assino, achando que ela me faz um favor.
Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.
Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas... Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho. Não dizem: pode parar, dizem: 'pó parar' Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'onde queu tô.' E até “oncotô”.
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - linguisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz sentido...
Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?' Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.
Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc..)
O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.
Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: '- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.'
Esse 'aqui' é outra delícia que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção:
é uma forma de dizer 'olá, me escutem, por favor'. É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.
Mineiras não dizem 'apaixonado por'. Dizem, sabe-se lá por que, 'apaixonado com'. Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: 'Ah, eu apaixonei com ele...'. Ou: 'sou doida com ele' (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).
Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.
Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: –'Eu preciso de ir.' Onde os mineiros arrumaram esse 'de', aí no meio, é uma boa pergunta... Só não me perguntem! Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório.
No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!
Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará :'- Ai, gente, que dó.'
É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras... Não vem caçar confusão pro meu lado! Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.
Ah, e tem o 'Capaz....' Se você propõe algo a uma mineira, ela diz: 'capaz' !!! Vocês já ouviram esse 'capaz'?
É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer 'ce acha que eu faço isso'!? Com algumas toneladas de ironia... e você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: 'ô dó dôcê'. Entendeu? Não? Deixa para lá.
É parecido com o 'nem...'. Já ouviu o 'nem...'? Completo ele fica: '- Ah, nem...'. O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum. Você diz: 'Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?' Resposta: 'nem...'. Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?
Preciso confessar algo: minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.
Se você, em conversa, falar: 'Ah, fui lá comprar umas coisas...'. - Que' s coisa? - ela retrucará. O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o 'que'!
Ouvi de uma menina culta um 'pelas metade', no lugar de 'pela metade'. E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará : – Ele pôs a culpa 'ni mim'.
A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: 'preocupa não, bobo!'...
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim. Fórmula mineira é sintética e diz tudo.
Até o tchau, em Minas, é personalizado. Ninguém diz tchau, pura e simplesmente. Aqui se diz: 'tchau pro cê', 'tchau pro cês'. É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Crônica extraída do livro 'As coisas simpáticas da vida'.
Landy Editora, São Paulo (SP) - 2005, pág. 82.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
FAMÍLIA FRANÇA
E assim começa uma linda história... Aos vinte e cinco de abril de 1.884, lá no longínquo Recantos de Carvalhos de Baixo, Freguesia de Pedroso, Conselho de Villa Nova de Gaia, distrito do Porto, em Portugal, nascia Manoel Pinto Ribeiro, filho de Joaquim Pinto Netto e Maria França Ribeiro. Por volta de 1.914, o jovem Manoel, foi contratado por uma família abastada, para ir ao Brasil exumar os ossos de um membro daquela família, que havia falecido no Rio de janeiro. Aqui chegando, desembarcou do vapor no porto da cidade do Rio , para cumprir a sua incumbência. Com o início da primeira grande guerra mundial, o jovem Manoel ficou com receio de retornar a Portugal, e ser convocado para servir e ir para a frente de batalha. Mas não deixou de cumprir a sua tarefa. Encaixotou os ossos e despachou-os para Portugal. Manoel permaneceu no Rio, e iniciou sua vida profissional como empregado no comércio. Não se sentindo realizado, partiu em busca de novos horizontes, e foi parar em Juiz de fora, MG. Lá chegando, empregou-se em outro comércio. Foi lá, que conheceu Maria José Thess, o grande amor de sua vida. Casaram-se em vinte e seis de Outubro de 1.918, e desse amor nasceram os filhos Maria de Lourdes, José, Henrique e Zélia. Ainda não satisfeito profissionalmente, Manoel continuava a sua busca por novos ideais. Cada filho nasceu em um lugar diferente. Barbacena, Belo Horizonte, Lavrinhas e por último Itanhandu. Foi neste recanto das Terras Altas da Mantiqueira, em Minas Gerais, que fixou residência, constituindo a sua empresa, a fábrica de produtos suínos Costa& França. Construiu sua casa, educou seus filhos, casou-os, e viu o nascimento dos netos e alguns bisnetos. Veio a falecer em 1.973, aos 89 anos. Hoje, 20 de Abril de 2.008, 114 anos após seu nascimento, realizou-se o primeiro grande encontro da família França. Muitos, há anos não se viam, lágrimas, emoções e antigas lembranças não faltaram. Foram momentos de grandes alegrias. Mineiros, Paulistas e até canadenses, nova-iorquino e cuiabanos, mesmo por fotos, também estiveram presentes. Com certeza, o próximo encontro será realizado. E essa linda história não morrerá, pois, os laços dessa família jamais irão se desfazer. Narro, orgulhosamente, uma pequena parte dessa história, com alegria e emoção. Afinal, sou casado com uma de suas lindas netas... E foi assim que eu ouvi contar!